Começo esse post com um suspiro, daqueles que vão até o fundo do âmago tentando retirar algo de precioso que há dentro de mim na expiração, para que esta preciosidade venha à tona e eu consiga escrever algo. Não sei sobre o que quero falar, então que os dedos me guiem pelo teclado e que as palavras fluam como um riacho.

Me sinto um pouco vilã, ultimamente. Engraçado isso, justamente eu, Miss Nice Girl, de repente me sentindo tão Riot Grrrl. Certinha, respeitadora, "de família"... que diria a mocinha Mary Jane de 12 anos vendo srta. Mary Jane de 22?

Engraçado, mas eu me pergunto isso ultimamente. Exatamente como naquele filme com Bruce Willis, onde ele se encontra com ele mesmo quando criança, esqueci o nome. Perguntei pra minha mãe o que ela criança diria para ela mesma adulta, mas esta me deu uma resposta poética demais. Queria ouvir alguma coisa mais concreta...

Mas enfim, o que eu diria sobre eu mesma se me encontrasse? Será que ficaria feliz, triste? Com certeza Maryjanezinha, primeiramente, diria para Mary Jane, "poxa, mas você podia ser bem mais, hein, amiga?".

Depois indagaria, decepcionada: "Mas como vc não se tornou jornalista musical?", para depois ficar mais surpreendida ainda: "QUÊ????????? NÃO EXISTE MAIS SHOWBIZZ????????", seguido de: "Ah bom, voltaram a publicar. Mas custa tudo isso? Você já é formada, sua vagal, como vc não trabalha e paga a sua própria revista?"

Mas Mary Jane não seria plenamente humilhada por Maryjanezinha, também. Daria-lhe uma bronca e a mandaria parar de ouvir Bon Jovi imediatamente. "Não, amiguinha, olha, presta atenção, Jon Bon Jovi não tudo isso que vc pensa, mas eu te perdôo porque ano que vem vc vai conhecer Foo Fighters. E por favor, não use essa franja, porque assim vc fica parecendo a Little Ramona".

Também aconselharia escolher melhor as amizades e valorizar as que já possuía, porque ela choraria muito ainda por conta disso, por alguém que nem valeria tanto a pena assim. Diria-lhe: "Seja você, querida, sempre você, porque essa é a sua dádiva, a sua personalidade". Mas talvez eu fosse muito infantil pra entender o que era realmente isso.

E também diria para Maryjanezinha não jogar futebol americano no corredor de casa com o irmão, porque iria cair, quebrar o dedão, ninguém iria querer levá-la ao ortopedista e mais tarde descobririam que sim, o dedão de fato estava quebrado, porém já seria tarde, porque este se calcificaria torto. E como irira incomodar na hora de usar sapato fechado, viu...

Talvez Maryjanezinha não se decepcionasse tanto com Mary Jane, porque no final as coisas tomaram um rumo totalmente diferente, e em muitos aspectos, Mary Jane está onde Maryjanezinha queria tanto contemplá-la.

E no fim, Maryjanezinha e Mary Jane dariam as mãos, porque, como no filme, perceberiam que não valeria a pena mudar o passado e nem mexer no futuro, porque sem isso eu nunca chegaria a tais conclusões.

[ Ao som de "Piensa en Mi" | Chavela Vargas ] - inclusive Maryjanezinha acharia essa música breguíssima, ai como eu era sem personalidade