Meu sonho de infância era ter uma prima da minha idade. Daí seríamos amigas e seríamos cúmplices, dividiríamos futilidades, segredinhos, e revistas Capricho, Querida e Carícia (sim, eu fui uma criança/adolescente solitária, porém não uma vítima).

Porém, acabei sendo o bendito fruto de cinco primos homens até os 14 anos. Era a pura relação Mônica-Cebolinha com todos. Carinhosamente, sempre fui alvo de perturbações, bem como de ciúmes extremos! Tenho todos como irmãos. Sempre estão presentes em todos os momentos da minha vida. No meu primeiro beijo, por exemplo, lá estavam eles, arquitetando algum plano pra afugentar o estranho de patins que estava dando em cima da única prima deles.

E assim sempre foi, eles sempre achavam uma maneira de me perturbar. Quando eu tinha 11 anos, o alvo era Jon Bon Jovi, que eu amava de paixão. Falavam que ele era homossexual, criticavam as músicas, e, dependendo da situação, eu abria o maior berreiro. O tempo passou, e os alvos mudaram: passaram a ser namorados. Não, eles não têm um mínimo de pudor, lembro de um o qual eles sempre questionavam o tamanho do genital pelo fato de ser japonês, um outro era considerado flanelinha porque era skatista, um deles ganhou o apelido de "Pampers" porque tinha nádegas grandes.

O bacana é que a vingança é um prato que se come frio. Porque o tempo passou, e propiciou motivos ótimos para que eles se tornassem vítimas. Primeiramente desenvolveram péssimo gosto musical, e já que eu sou criteriosa, por que não julgar? Shakira? Blink 182? Péssimo. Mas o melhor é que cada qual foi arranjando sua namoradinha. Um namora com uma menina chatinha bem mais baixinha que eu, então por que não dizer que ele trafica, diariamente, 1,40m de drogas? Outro é magérrimo que só, arranjou uma cheinha, por que não dizer que atualmente uma matrona o domina? O mais novo ainda não apareceu de mãos dadas, mas é lerdo que só, o que lhe rende desde bebê o apelido de Pingüim.

Escrevo isso com eles aqui ao lado, jogando cartas, imagina se eles lêem este texto? Eu já desfruto de paz plena, já não me enchem mais, com certeza eu devo ser considerada uma prima chata, metida a intelectual, criteriosa e de humor ácido. Bu! Assusto eles agora! Sim! Acho que eu acabei virando uma versão XP de mulher superior! Vcs me agüentam, agora? Creio que não! Lá lá lá!

Enfim, passado o momento egocêntrico, como falei mais acima, fui a única menina até os 14 anos, porque aí meus tios resolveram colocar o gene XY em ação: nasceram duas, no mesmo ano, quase que simultâneamente, e têm hoje 8 anos.

Como tudo na vida é questão de rito de passagem e tradição, fico imaginando quando elas deixarem de ser crianças e começarem a crescer, como é que os homens da família vão pegar no pé delas. Pelo menos é bom não ser mais a única mulher da família. E mais: espero pelo dia em que elas crescerão o suficiente pra me ajudar a lavar e secar a louça nas reuniões familiares, porque vou te contar, viu, não é fácil ficar sempre cuidado da cozinha sozinha!

[ Ao som de "Special Needs" Placebo ]